quarta-feira, 14 de março de 2012

morrodamaianga: O exemplo brasileiro

morrodamaianga: O exemplo brasileiro: Em Angola copiamos muita coisa que vem do Brasil, incluindo o sotaque e o “português mal falado” dos seus mais de 100 milhões de habitante...


Caro Wilson Dada,

Sou leitor atento do seu blogue. Por esse motivo queria apenas deixar em duas notas num pequeno comentário em relação à matéria em análise.  1. Penso que a comparação que faz de Angola e do Brasil tem alguma razão de ser, se pensarmos na ação e força política de algum sector da "esquerda brasileira" e mesmo do "direita". Falo concretamente do PT de Lula e do PSDB de FH. Cardoso. Por isso, seria um grande ganho politicamente se tais experiências políticas de transformação do espaço público fossem tomadas pelos fazedores da política em Angola e os outros segmentos sociais. Afinal, a res publica é assunto que  a todo e qualquer cidadão diz respeito. 2. Quanto afirmação de que em Angola copia-se tudo que vem do Brasil até o " o sotaque e a português mal falado", não penso concordar consigo, porquanto entendo que manifesta uma posição linguisticamente deseconselhada. Repere que, a língua é dinâmica e é da fala quotidiana que a mesma evolui e assume variações.  Uma posição do género inscreve-se naquilo que em linguística denomina-se "gramática", ou seja, o puritanismo ideológico-linguístico. Uma crítica nesse sentido deve ser fundamentada, o que não quero com isso dizer que devemos dispensar à gramática que regula a variante padrão-escrita. O Brasil é um país diverso, e é essa diversidade que marca a sua riqueza. Daí não fazer sentido, do ponto de visto da linguística, dizer que "em Angola copia-se o sotaque o português mal falado dos seus mais de 100 milhões de habitantes". A título de exemplo: no Brasil encontramos entre São Paulo, Rio, Salvador e Maranhão mais de 10 sotaques (variações de uma mesma língua), só para citar apenas esses.

Abraço!

domingo, 11 de abril de 2010

Estética da vaidade e o Can 2010

O presente texto é uma reflexão em torno dos custos não só económicos, mas de ordem estética e simbólica, uma vez que um dos objectivos do CAN 2010 seria a organização exitosa, que serviria de cartão postal para imagem do país além fronteiras. 
Pois bem, o desafio será olhar com olhos avaliativos para as mudanças que ocorreram na ordem social, passado dois meses do encerramento do campeonato africano de futebol, na sua fase final. Olhemos em redor e avaliemos o que de significativo mudou, para além do clima de euforia, entusiasmo e da onda consumista.
Muito foi tido e escrito a cerca do evento este desportivo que o país organizou. Falo do CAN Orange Angola 2010, de 10 a 31 de Janeiro passado. Analisado com os olhos de hoje e diante do distanciamento de dois meses, importa reter alguns apontamentos. O meu argumento tem como pressuposto que o CAN 2010 serviu mais para colorir à imagem dos decisores políticos de Angola, do que as potencialidades e competências organizativas de um país em flanco desenvolvimento de infra-estruturas e serviços diversos. Não quero negar que não se esteja a investir, que não se esteja a registar ganhos económicos com a particularidade de provirem do Boom do petróleo. É que, os avanços são poucos se comparados com às dificuldades do dia-a-dia dos cidadãos nacionais. Com estes eventos, criam-se sonhos, anseios e muitas esperanças são depositadas. Mesmo sabendo de antemão que os eventos desportivos causam desilusões aos países que investem mais discursos e menos prática, e terminam com resultados não satisfatórios, próprio da falta de previsibilidade.
Não fugindo à regra, criou-se ao longo da organização do CAN 2010 muitas expectativas na mente dos pacatos cidadãos angolanos e estrangeiros, que viajaram dos seus países, ou como turistas ou fazendo parte das caravanas de apoiantes as selecções nacionais.
Aos Palancas Negras foram disponibilizadas atenções especiais, com direito a estagiar na Europa, como fomos habituados, uma vez que abriria o campeonato, no hoje famoso estádio 11 de Novembro, uma homenagem a data que marca a conquista da independência, com todas as suas nuances históricas. O estádio 11 de Novembro foi construído de raiz e com capacidade para albergar perto de 50. 000 pessoas, - um moderno estádio com equipamentos da mais alta tecnologia de ponta. Adjacente a esta infra-estrutura pública, foi construída uma via rodoviária rápida que dá acesso algumas zonas da cidade capital. Prevista para quatro faixas de rodagens, mas que por altura do evento apenas duas funcionaram na plenitude. 
Perspectivava-se que estes investimentos públicos com custos económicos elevados, viessem devolver alguma dignidade as cidades que acolhessem o campeonato e que tivessem retornos aos cofres do Estado sobre outras formas.
O estado angolano não hesitou em construir quatro novos estádios de raiz nas quatros províncias, como também em equipamentos, recuperação de outros estádios secundários, onde as equipes efectuaram jogos treino, é o caso da própria selecção angolana de futebol que ficou hospedada a dois ou três kilométros do campo onde fez os jogos treinos. Entenda-se que, quando nos referimos em estado, usamo-lo no sentido lato e não restritamente ao governo. Estado é toda colectividade que responde pelo país. Por uma questão inclusiva falámos em colectividade, justamente para não deixar ninguém de fora. Esta reflexão, importa ser feita pela generalidade, porque somos todos responsáveis pelo país que temos. Embora uns mais do que outros, pela posição que ocupam de decisores públicos na hierarquia do Estado.
Para além dos já referidos estádios, o estado angolano gastou fundos públicos na construção e equipamentos de redes hoteleiras, principalmente, nas cidades que acolheram as equipes nacionais de futebol dos países africanos. O estado reforçou a capacidade de outros hotéis nas cidades e investiu numa rede de transportes públicos colectivos e semi-colectivos, este último imediatamente privatizado após o final do CAN2010.
Investiu em comunicações (telefonia fixa, internet,) pela Angola-Telecom aos adicionais monopólios da empresa Movicel, iniciativa da rede móvel de capital público e actualmente secundarizada para o privado, e da empresa privada de telefonia móvel – UNITEL, cuja capacidade e qualidade dos serviços inquieta os cidadãos, particularmente nos finais de semana,  ou datas festivais.
O estado angolano para além dos estádios, redes hoteleiras, transportes colectivos e semi-colectivos, investiu na recuperação de redes aeroportuárias, das “capitais do CAN2010” aumentando capacidade de passageiros e a modernização em meios técnicos.
Para além do aeroporto internacional de Luanda, foram reconstruídos o aeroporto do Lubango, de Benguela e Cabinda. O aeroporto do Lubango deixou a categoria de doméstico e passou para aeroporto internacional.
Visto com os olhos de hoje, constatamos que um dos objectivo do CAN2010, todo indica que foi alcançado, “Angola mostrou perante África e o Mundo que está em pé”. Esta é uma das poucas frases do glossário dos dirigentes nacionais que sobreviveu as mudanças ideológicas ocorridas nos últimos 20 anos. O país conseguiu a custa de milhões de dólares vender uma imagem a África e ao Mundo. E ao fim de contas, gastou-se dinheiro público e acolheu-se, cofres vazios, os Palancas Negras apesar das alegrias de pouca dura acabaram eliminados nos quartos-de-finais, e os cidadãos com as expectativas frustradas de ver melhorar a renda com os investimentos públicos. O infortúnio estive a espreita e acabou por culminar no ataque do grupo armado da FLEC à selecção togolesa, quando a mesma fazia-se transportar pela fronteira da República do Congo e a província angolana de Cabinda. Este incidente implicou uma disputa político-diplomática entre Angola, França e o governo togolês, terminando com o afastamento desta dos próximos campeonatos de futebol africano, e as investidas da polícia de segurança angolana aos cidadãos angolanos em Cabinda, presumíveis implicados no ataque de 11 de Janeiro.
Visto com serenidade, os custos do CAN2010, redundaram em gastos astronómicos para o país. Estará por provar, se a falta de salários da função pública não será uma das consequências decorrentes dos gastos sem retornos? Estará por prova, se embora prevista segunda fase de empréstimo do FMI à Angola, não terá sido antecipado pela ausência de fundos nos cofres do estado? 
Os números estão à vista de todos e caberá cada um fazer a sua avaliação, uma vez não serem de domínio público os dados oficiais, de quanto o estado gastou com para a organização deste evento.
A utilização dos modernos estádios de futebol é um dos exemplos que merece ser analisado. Foi-nos possível ter uma ideia geral dos custos do CAN 2010 através da coincidente publicação do primeiro número da revista Exame- Angola, de 2010. 
É hora do estado angolano fugir a atenção de investimentos com elevados custos públicos da qual não se tiram retornos. Estamos a falar dos já situados estádios de futebol e das infra-estruturais como a Barragem Hidroeléctrica de Capanda que ainda não logrou o seu resultado, do quanto custou ao Estado.
Investimentos desta natureza são, certamente, importantes para dar um outro ímpeto ao país e a vida dos cidadãos, mas com ponderação nos custos, uma vez que a experiência pode ser conselheira, de cuja “às esperanças das populações estão cada dia mais idosas”, como bem cantou Alberto Teta Lando.
Há que lançar o país para investimentos públicos que vão ao encontro das reais necessidades da população e não se corra riscos, nem se transformem em meios para afectação de “comissões” em proveito das lideranças dos sectores.
Há que pensar em investimentos que sejam um ganho para o país, e não tragam custos económicos, sociais e ambientais elevados.
Só em Luanda temos exemplos de investimentos que não lograram os benefícios reais aos cidadãos desta cidade. A recente reconstrução do aeroporto Internacional de Luanda é um dos sinais da falta de fiscalização e previsibilidade pública, perante o que veio acontecer depois das chuvas do mês de Março, que agora termina. Todos os méritos são do articulista do Novo Jornal, Gustavo Costa, quando alerta sob a falta de seriedade e responsabilização, a que ficou voltado o mesmo aeroporto depois das chuvas.
Falo do aeroporto, mas poderia citar outras infra-estruturais que já levam mais de 10 anos para a sua conclusão. É o caso da famosa cidade universitária em Luanda, de que quando começou a ser projectada, o autor do texto não sonhava terminar a licenciatura.
Investimentos dessa natureza são desaconselháveis, a menos que os responsáveis públicos publiquem oficialmente os prazos da sua duração e não obriguem à população a conceder esforços em vão. 
É já altura de se parar com a imagem de ostentação que é projectada para fora do país, porque os recursos por si só não fazem o país. O país faz-se com à sua capacidade de transformar e reproduzir estes recursos em benefícios e ganhos para os cidadãos. Ainda assim, o país tem de ter a capacidade de previsibilidade, uma vez escassearem os recursos, estar em condições de sobreviver das competências humanas adquiridas. Do meu ponto de vista, pouco o país ganha ao projectar uma imagem constantemente contrariada pela realidade social no dia-a-dia. O país faz-se com homens instruídos, já dizia o velho ditado. Aqueles que mais cedo investem nas capacidades humanas, mais rápido colhem bons proventos. Nem sempre o mimetismo é o melhor caminho para o desenvolvimento. O país deverá ser capaz de produzir o seu próprio caminho para o desenvolvimento, e que seja de acordo as aspirações reais das populações.
Custa-me e já quase estamos habituados a ouvir os decisores públicos, nos seus pronunciamentos falarem dos desígnios de Angola se transtornar numa potência política e económica da região austral. Tal desiderato tem realização discursiva e no imaginário político nacional, mas é contrariado pela realidade do dia-a-dia. Os recursos não faltam, mas é urgente transformá-los em capacidades e competências, se não corre-se o risco de se ficar pelo discurso e pelo imaginário.
Insisto na ideia de que, o país pouco ganha com a estética da vaidade nos discursos públicos sem realização prática. Somos catalogados como sendo um o país rico em recursos e pobre em qualidade de vida e bem-estar. As informações que nos chegam, de que Luanda consta como uma das cidades mais caras de mundo, causam perplexidade diante do paradoxo do quotidiano Luandense.
Há que salvaguardar à imagem do país. E esta responsabilidade caberá a todos, principalmente aos decisores públicos que muitas vezes não se coíbem em anunciar discursos inflamados e ilusórios, que ao invés de mostrar as potencialidades, demonstram as fragilidades do país. E nem sempre aprendemos com as nossas fragilidades, que bem olhadas podem abrir novas perspectivas. Há que ter receios nos anseios e “aspirações faraónicas”, para não serem contrariados pela nossa própria ordem social. Um dos riscos da estética da vaidade é a sua transmissão veloz para as gerações mais novas. E assim, vai se fazendo o país.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Segundo ataque ao CAN 2010 - Angola

O Segundo ataque ao CAN 2010


O presente texto tem como objectivo reflectir em torno das informações divulgadas sob o ataque da FLEC à selecção togolesa na fronteira entre a República do Congo e a província angolana de Cabinda.
Começo por concordar que é deveras responsabilidade do país organizador, garantir a segurança máxima das selecções e das pessoas de uma forma geral. Não se trata de buscar  culpados, embora sabe-se que as responsabilidades são bem conhecidas. Ora, Angola do nosso ponto de vista aparece de uma forma diferente na imprensa europeia, com tudo que há de mais negativo naquele país ao sul do continente africanos. Propaganda a parte, o CAN 2010 é uma manifestação desportiva e deve-se evitar fazer política, muito embora concorde que haja espaço para tal. Contudo, não sem reconhecer o mal causado pelo atentado, fico espantado quando ao leio e vejo tamanha campanha de ofuscar uma realização que é suposto ser a festa do futebol africano.  O mais admirável em tudo isso, são os argumentos que sugerem  da possibilidade de igual ocorrência num Mundial ainda em agenda.  Como se o problema de Cabinda tivesse ligação com a realização do Mundial pela África do Sul. Entendo que existe um conflito de baixa intensidade em Cabinda, e uma vez conhecida a agenda da selecção togolesa, pelas autoridades angolanas, devesse desaconselhar o trajecto pela zona fronteiriça.  Mesmo com alguma segurança em escolta, o evitável aconteceu.
Minha intenção é reflectir  em torno da campanha de informação sob o atentado pela imprensa internacional, com destaque para a europeia. É deveras espantoso ver como até imagens de passado conflito são usadas para narrar o sucedido. É motivo para questionarmos até que ponto vai a campanha de desinformação contra um país que acaba de sair duma guerra civil faz 7 recentes anos.  Uma das hipóteses que levantamos é que Angola reemerge na imprensa europeia pela negativa e todo esforço é feito no  quadro do passado conflito.  Na medida que as informações são emitidas, nasce a desconfiança e o desconforto diante de uma imagem de um país em reconstrução.  Vários são os debates desencadeados em tão curto espaço de tempo,  - estou certo que ganhará a festa do futebol com tudo que há de mais político no CAN2010.   Para o governo de Angola é um segundo golpe ao CAN 2010,a campanha de informação promovida pela imprensa europeia.  Motivos existem para questionar o poder nosivo que tal campanha poderá macular mais uma vez a imagem este país. É caso para reflectirmos em torno  dos efeitos colateral do chamado quarto poder.  Se a imprensa ajuda a construir, não é menos verdade que também ajuda a desconstruir.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Replica: Um Safari Chinês

Um Safari Chinês –  livro de jornalismo de investigação  à intervenção chinesa no continente africano.
África apresenta-se aberta ao capitalismo chinês, particularmente nos países estratégicos e potenciais em recursos naturais.
Interessa-me mais o título original, - “ La Chinafrique. Pékim à la conquête du continent noir”, embora o título em português soa  mais a ironia, talvez o sensasionalismo comercial.
No fundo é uma obra interessante para avaliar a forma como o capital é igual em toda parte, sendo o único interesse o lucro. Um Safari chines, - diz muito mais dos investigadores jornalistas, suas jornadas de trabalho e muito pouco do capitalismo chinês em África, baseado na solidariedade e beneficio mútuo.
12 países africanos foram alvo de investigação apontada e fotografada, num trajecto que durou dois anos.
Sem dúvidas que à intervenção chinesa em África, com todas as suas nuances, é encarada com bastante preocupação pela impresa ocidental e os centros de decisão política e económica. Um Safari chinês, oferece-nos uma imagem mitigada de África optimista com as novas ou renovadas alianças ao capital chinês.  – o que faz renascer novas esperanças para alguns e oportunidades de enriquecimento para outros.  Verdades abandantes sobre o cruzamento de interesses  chinês com as elites políticas e económicas africanas, num pacto em que saí triunfante o Exim Bank of China, - nova versão do FMI chinês.
O livro encerra com uma mensagem herdeira do afro-pessimismo, em contraponto ao afro-optimismo contagiante.  Ideias esteriotipadas e metaforas vivas são abandantes na obra. Uma influência directa da literatura de viagem em  obras como “ No coração das Trevas”, de Josheph Conrad e outros nomes ao serviço do colonialismo do século passado.
Como faz notar o cientista africano Carlos Lopes (2009), não pode ser subestimado o impacto da china (na) transformação real, mas sobretudo psicologica. Pela primeira ves, a África sente-se digna, capaz de escolher e com um optimismo contagiante.  Ao contrário do que se propaga, os chineses não vêem apenas buscar materias-primas. Eles são já o primeiro investidor em infra-estrutura, entraram com liquidez extasiante no Mercado financeiro doméstico da África do Sul e Nigéria, para financiar projectos locais. Eles buscam também um intercâmbio tecnológico crescente com o continente.  A “febre da china” (2009) têm influenciado o debate dos cientistas africanos nas mais diversas áreas.    Portanto, o capitalismo chinês também tem às suas vítimas.

domingo, 15 de novembro de 2009

Degravata: entre ter, aparecer e ser






Desde A forja (1985) e Meu réu de colarinho branco (1988), passando ainda por Mahézu (2000) e Joana Maluca (2004), o escritor vem se revelando, contudo, um cultor exigente, propondo-se conjugar, com não menos primor imaginativo, a intencionalidade pragmática ao efeito estético e a seleção e urdidura dos recursos discursivos aos referentes de significação e tematização textuais. De modo pertinente, a sua escrita tem sabido, como diria António Cândido na esteira de François Langlois, “enrola(r) a verdade na fantasia”, na medida em “que tal é a nossa imperfeição, que repelimos o que não vier ajustado à nossa superficialidade.” (CÂNDIDO, 2006, p. 117).
Após um médio interregno, Carmo Neto ressurge com Degravata, obra editada e publicada em 2007 pela União dos Escritores Angolanos (UEA) – n.º6 da Colecção ‘Sete Egos’ – e na qual reúne o total de 24 breves narrativas, que aqui se chamarão (por ora, sem almejar o rigor genológico) de crônicas de costumes, algumas delas inéditas e outras agora republicadas. Comportando 103 páginas, o livro traz ainda o prefácio do poeta José Luís Mendonça e o posfácio do professor Francisco Soares.
As crônicas abordam, sob vozes narrativas oscilantes, cenas diversas e dispersas dos cotidianos luandense e malanjino (bem como de outros física e nominalmente indeterminados), sem deixarem de inferir sobre as lógicas (internas e externas) das relações de poder que refletem o novo clima de experiência social – política, econômica, cultural e, sobretudo, ética – por que passa a sociedade angolana na atualidade, pretérito que é o tempo agônico e fratricida da razão armada.
As intrigas são caracterizadas por episódios de viés picaresco, burlesco e até paródico, tendo nas personagens, e na rede de relações que essas constituem, o centro simbólico da crítica dos valores, discursos e ações que enformam o universo perverso das novas ordens sociais e políticas. De tal sorte que o aparente caráter fragmentário da obra é degenerado pela noção de afinidade subjacente ao estatuto semântico e temático conferido às personagens, numa elaboração temporal que justifica o recurso às memórias do presente e do passado.
Nota-se, pois, que as potencialidades discursivas do gênero narrativo adotado são articuladas em sintonia com a recriação poética do real, a reportagem dos fatos, a ficcionalidade verossímil e os juízos de valor velados. As figuras que circulam por essas crônicas de Carmo Neto vão desde kitandeiras, jovens ociosos, crianças de rua, quimbandas, kamanguistas, trabalhadores utópicos e honestos, kínguilas, políticos e burladores à gente mesquinha, carente e ingênua de má-fé e sorte. E por estarem inseridas em narrativas de curta extensão, as suas caracterizações e identificações acabam por definir, desde logo, os seus papéis e destinos nos contextos das intrigas, a julgar pelos apelidos de conotações irônicas socioculturais e ideológicas: Azarado, Utópico, Cuidado, Kota Kitadi (mais conhecido ainda por Cabeçudo), Irmãos Kambutas, Pouca Sorte, Milideias, Diamante, Mao, Sô Chico-Cara-do-cu, Vinte-Por-Cento, família Quiquêrra, etc.
Com efeito, elas são apresentadas como partícipes integrantes de espaços sociais de vária ordem (instáveis e moribundos; intrigantes e fúteis) e cujas trajetórias as evidenciam quer como vítimas, quer como autoras da sua própria falência.
Tanto é que a celebração do fingimento é representada como um elemento ora consagrado na praxis do cotidiano (nos círculos familiar e bairrista, por exemplo), numa sociedade onde as pessoas são tidas e julgadas pela (cor da) gravata que usam e não pelo que são: como se lê na crônica homônima ao título, em que João Faztudo se fazia passar por prestigiado professor e por isso respeitado, “até um dia ser descoberto, por unanimidade e aclamação, criado do Hospital, lavador de bacios, sem blindagem nas narinas!” (p. 26); ou ainda no caso de Kaxexe, a quem se reconhece publicamente o título de doutor, mas que, na verdade, “tinha desfeito apenas uma cadeira na Universidade do Catambor” e nunca teria passado por uma “Universidade reconhecida pela Unesco” (p. 80).
O que se parece apontar como defeitos e vícios da sociedade não são os status em si, mas sim o uso de meios indecorosos e falsários para alcançá-los, assim como as atitudes empafiosas e arrogantes de neles se posicionar:

Víamos o Paciência, um alto funcionário do Estado, a passar e a olhar sem ver, e sentimos o bairro lacrimejar as nossas vidas agarradas ao chão, porque o tempo foi o grande ladrão que esqueceu-se (sic) de deixar o recado para que fôssemos gente (p. 64-65, grifo nosso).
Como se poderá verificar, pelo que acontece em não raras ocasiões, as vozes das personagens e do narrador resvalam na voz do autor (empírico e histórico, refira-se), produzindo-se um discurso do desmascaramento de certas hipocrisias, num tom sisudo, quando muito corrosivo e desencantado ao se referir à ética de conduta das classes do poder: “Pior é que, uma vez, o proprietário de empresas, clínicas e colégios, levou o cofre com dinheiro público pra casa, onde o mesmo se evaporou, e acha ter prestado bom serviço público!” (p. 19).
Mais do que o produto de simples modismos localizados e que incidem sobre determinados segmentos sociais, o neologismo que dá título à obra corresponderá a uma “disposição postural” socialmente engendrada (BOURDIEU, 2007, p. 61), ou seja, é a afirmação de que “tudo se transforma” (p. 85), como argumentaria uma das personagens de quem se desconhece a fonte de enriquecimento.
Assim, instauram-se mundos às avessas onde os heróis utópicos deixam de existir ou enlouquecem (cf. “Ah! Jeremias”, p.53-55; “Adeus, camarada!”, p. 91-93) e ganham destaque os mandarins e impostores de malandragens várias (cf. “A garina da marginal”, p. 37-39; “O deputado da rua das flores”, p. 61-62; “Ai, minha herança”, p. 77-78). Tratam-se de mundos caóticos que se tornam espaços de degradação das regras sociais e do vale tudo: onde só os lucros justificam a moral do negócio (“– (...) Podes criar uma agência funerária. Também dá dinheiro. As pessoas estão a morrer como bichos”, p. 21), as descontinuidades históricas são questionáveis (“Mas, as pessoas trabalham como no poema ‘Monangamba’ do António Jacinto”, p. 45), as desigualdades sociais são absurdas (“Custa acreditar!”, p. 84), as liberdades são cerceadas (“– Xê, mano, não fala política!”, p. 85), a ilicitude é naturalizada (“– Aqui há corrupção. Não há corruptos”, p. 88), os excessos são consentidos (“– Estamos na etapa da acumulação selvagem do capital”, p.89) e a única evocação edificante se faz ouvir pela voz dos mais velhos (“Meninos, não deixem perder a vossa terra”, p. 59).
Sem parecer temerário, pode-se asseverar que, pela presente obra, Carmo Neto intenta uma escrita de vigilância ética (sem querer ser moralista) para questionar os (des)caminhos pelos quais o país (e por que não também a nação?) segue, por meio duma escalpelização de incidência sociocultural e política. E fá-lo em expressão elevada, mesmo que, no plano estilístico-narrativo, se afira, dentre algumas crônicas, uma ausência de coerência na linguagem e de consequência formal, no sentido de que parece haver tanto alternâncias fortuitas dos registros sintáticos e lexicais usados (mormente na reprodução escrita da oralidade), quanto descoordenações dos modos e técnicas discursivos que chegam a beirar a ineficácia irônica e satírica no que diz respeito à narração de determinados eventos, à construção dos diálogos, à descrição dos espaços e à caracterização física e psicológica de algumas personagens.
Degravata é uma obra que é pelo seu todo, porém, o seu valor não se esgota na sua funcionalidade, já que aquele vai além dessa, inscrevendo-se num forte propósito semântico-pragmático. No mais, é enquanto cronista de costumes que Carmo Neto (re)pensa a sociedade angolana, elegendo, para o efeito, alguns dos temas mais caros à atual conjuntura, como sejam o dos novos interesses corporativos, da corrupção política e social, do arrivismo, do clientelismo, do facilitismo, do pseudo-elitismo, da mediocridade profissional, do novo-riquismo predador, da ostentação de “tanto verniz mentiroso na pele das pessoas” (p.53), enfim, das lógicas do ter e aparecer, a despeito da lógica do ser:
Ambos faziam esforço por crerem na nova realidade do Man João. Mas, a ideia de parecer normal engordar bolsos e emagrecer a mente, aborrecia-lhes. E mergulhavam, novamente, num silêncio completo. E, outra vez, sentiam a mesma voz alertar:
– Cuidado contra um novo ismo gémeo do colonialismo. (...) Mahézu, Ngana! (p. 84-85, grifo nosso).


NETO, Carmo. Degravata. Luanda: União dos Escritores
Angolanos (UEA), 2007 (103p.)

Referências bibliográficas


CÂNDIDO, A. Timidez do romance. In: A educação pela noite. 5. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006,p. 99-120.

BOURDIEU, P. A gênese dos conceitos de habitus e de campo. In: O poder simbólico. Trad. F. Tomaz, 11.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2007, p. 60-73.



 Texto de autoria de  Osvaldo Silva

Um milagre chamado CAN 2010

Era uma vez, um país chamado Angola cuja missão a 10 de Janeiro de 2010 seria organizar a fase final do campeonato de footebol africano. Do outro lado o seu vizinho mais ao extremo sul organizaria no mesmo ano o campeonato mundial da mesma modalidade, o venerado footebol.

Com à organização do CAN 2010 neste país chamado Angola, os problemas tinham desaparecidos. Construiu-se hospitais, centros de formação hoteleira, quatro novos campos de footebol, com realce para o com maior dimensão situado em Luanda e em três outras cidades. Estradas, pontes de ligação entre cidades, Hoteis de luxo, cujos preços variavam dos 200 por dias aos 600 dólares americanos. Os governantes deste país, cada vez que surgissem na imprensa pareciam todos esperançados com os milagres do CAN 2010.
A população foi toda envolvida viva e a cores nos milagres do CAN 2010. A passagem da taça do campeonato mundial de footebol organizado pelo vizinho do extremo sul passou por Luanda capital e movimentou uma grande turma de políticos do mais alto nível.
O CAN 2010 fez desaparecer os engarrafamentos nas estradas de Luanda, os buracos desapareceram e surgiram novas linhas de transporte público, até em zonos onde outrora não existia. Esta cidade parecia uma outra, comparando com os seus problemas de saneamento básico a que o CAN 2010, felizmente, para os cidadinos fez desaparecer. Já não se colocava o problema de infra-estruturas, porque CAN 2010 fez surgir novos edíficios no centro da velha cidade de Luanda, à exemplo da torre da Sonangol, onde outrora o estacionamento era um greve problema. No Luanda sul não paravam de subir luxuosos e gigantescos edifícios. No Huambo e Bíe, províncias do planalto central, um novo largo 1º de Maio acabava de ser construído e novas infra-estruturas faziam desaparecer as ruinas da guerra dos longos anos.
O CAN2010 desafiou os engenheiros que trabalhavam no projecto Capanda para o fornecimento de energia eléctrica, afim de acabar com os cortes sistemáticos nos musseques do Cazenga, Rangel, Samba, Kilamba Kiaxi e outros da grande Luanda. Enfim, os “gatos” finalmente acabaram. Já se dormia ao som do semba com o “AC” ligado, para aflição dos mosquitos da noite luandense.
Do Musseque ao centro das cidades de Luanda, Benguela, Huila e Cabinda, o que mais se ouvia eram os ecos da organização por Angola do CAN 2010. O campeonato parece que nos veio salvar de todas as makas domésticas. Ao CAN 2010, só a festa da dipanda conseguiu competir por uns dias e fez esquecer os seus milagres. Uma atenção em 100% ao CAN2010.
Era uma vez o CAN 2010.
Continuação.







sábado, 14 de novembro de 2009

A nossa " África angolana"

Começa a tornar-se interessante o facto de se realizarem reflexões em torno da sucessão presidencial em Angola. Na minha opinião, o que torna interessante é a consciência de se reconhecer que a sucessão em Angola constituiu um tabu político. Várias são as teses que dão sustentabilidade a esse debate. Lendo os jornais e ouvindo a rádio tive a oportunidade de aperceber-me da sua existência, o que torna ainda mais interessante o debate.
Não sabendo muito bem o que dizer na altura, ouvi atentamente o debate promovido pela Rádio Ecclésia, o argumento segundo a qual “ em África o chefe constitui uma instituição”. Ao ser uma afirmação que tanto pode ser verdadeira ou não, o mais interessante seria, do meu ponto de vista, saber se estes chefes satisfazem ou não a vontade dos seus “subdítos”. Pessoalmente, não sou contra os chefes, até porque no sistema das organizações é bom que existam chefes. Alguém tem que assumir as responsabilidades do rumo das empresas ou de outra organização. O contrário já abomino, a chefiatura, traduzida na tendência ou cultura do “eu mando em tudo e tu apenas obedeces”, de tomar decisões unilaterais e para benefício individual. Mesmo nas organizações empresariais é saudável, tomar decisões dentro dum colégio onde a decisão é alargada aos seus membros. Ao menos está-se consciente que no mais pequeno desvio todos serão chamados a resolver os problemas que daí vierem.
Retomando a ideia da chefiatura, não é verdadeira a imagem que se pretende projectar em África sobre a chefia e eternização nos cargos de liderança política, ou outra qualquer, tendo como argumento, que os africanos não vivem sem os chefes e que faz parte da sua natureza. Este argumento de tão simplista que é, tem sido utilizado para justificar o injustificável, mais ainda, para justificar o desvio ao contrato social na perspectiva de Jean Jacques Rousseau, estabelecidos na elaboração das constituições e leis ordinárias nos países. Um segundo argumento foi a insistência sistemática de relacionar e justificar as sucessões em África, usando exemplos, dos EUA com o consulado do Bush sénior e o do Bush júnior, ou ainda da família Kennedy e o das monarquias parlamentares ou constituicionais por alguns países da Europa.
É caso para dizer, que fingimos estar distraídos. As monarquias na Europa, África ou noutras partes do globo, foram e são momentos históricos do percurso a que muitas sociedades se submeteram. Não se coloca como um problema enquanto tal, o que não quer dizer, que se pode defendê-las a qualquer altura, por qualquer custo.
Em Angola, pelo que me consta, não está previsto a instauração duma monarquia de tipo absolutista, ou outra qualquer. O contrato social estabelecido na Lei Constitucional vigente, proclama uma república, onde todos os cidadãos são iguais em deveres e direitos. A última tarefa seria caminhar no sentido contrariar deste princípio, resultante do contrato entre nós os cidadãos e primado das leis que nos governam, para o bem e saúde da democracia angolana. Ao menos que quem governa nos viesse dizer, que estão cansados com a curta experiência democrática e que para isso, o melhor em consciência seria mudarmos de sistema político porque os cidadãos da Grã-Bretanha mostram-se mais felizes com o seu modelo.
A mesma felicidade seria extensiva ao reino da Noruega, ou da Espanha. Mas os espanhóis e os britânicos têm os seus problemas, e pelo que tudo indica, provavelmente, estão interessados em resolvê-los, dado a pressão social a que os políticos estão habituados e da forma mais democrática possível, sufragando as decisões.
Tal desiderato, deveria nos conduzir à resolução dos nossos problemas, até porque parece consensual, que a sucessão em Angola não é o problema em si, contudo, o que se vê como problemático é a forma como, eventualmente, se vai processar esta sucessão. E se nisso, as pessoas vêm problema, é de todo compreensível, até porque temos em Angola não com suficiente experiência nesta matéria, estando registada apenas uma em condições que não das actualidade. Se a memória não me pregar uma partida, não podendo refugiar-me pela idade ainda novíssima.
Num dos artigos de opinião, que foi-me dado a ler pelos jornais que saem aos finais de semana, apercebe-me da ideia, segundo a qual havia uma suspeição em abordar o tema dos 30 anos de JES em Angola. Advertia o articulista, que o presidente angolano deu mostras de maturidade ao saber gerir entre muitos, os principais problemas do país. E, recordava ele, que José Eduardo dos Santos foi uma escolha necessária, fazendo suas as palavras do presidente aquando da passagem do testemunho pelo elemento perturbador com a morte de Agostinho Neto. Ao que todo indica, provavelmente, foi rompida tal corrente de suspeição, quando no final de semana os articulistas de alguns jornais angolanos, nomeadamente, o Novo Jornal e o Semanário Angolense saíram com reflexões várias sobre o plausibilidade da sucessão em Angola. Entre o perfil histórico de JES e os momentos por este governado. Um balanço dos 30 anos de consulado de JES, onde não faltou a comparação com outros lideres africanos, cujo recorde ultrapassa o de JES.
Sucessão ou não, prefiro falar de novo ciclo político, nem se para outros signifique a mesma coisa. Interessa-me o debate que começa a marcar presença constante nos jornais e nas rádios angolanas. Pela força da guerra ou não, estávamos muito virados a nós e na resolução dos problemas que o pós-guerra ainda não ajudou a resolver. Daí que nos tornamos amorfos ao debate de ideias e não de pessoas.
Outro aspecto que chamou-me particular atenção no debate da Ecclésia, foram os ataques generalizados às oposições políticas africanas, com particular enfoque para a nacional, como se todas elas estivessem no mesmo estado de crise face as sucessões. Chegando mesmo um dos intervinientes, afirmar estar perplexo com a declaração dum eventual abandono da Comissão Constituicional por parte da UNITA. O interveniente não se conteve nos pronunciamentos que fez sobre a postura da UNITA. Ao ser verdade e desde que não comprometa a saúde do país, até é bom quando existem mecanismos de pressão política, sem vitimizações. As resistências à Constituição não são um perigo em si, pelo contrário, a não existência de resistências, pode se revelar um problema, que outros países já experimentaram. Quando não se sabe ao certo o que consagrar e como consagrar.
Nesta discussão, a ideia que sugere o modelo sul-africano, para além de sedutora, produz sensação mediática e é apelativa dado ao momento que se vive naquele país. Contudo, parece estar esquecido com fluidez o fantasma que outrora assombrou a vida dos políticos angolanos. A África do sul de hoje, atractiva aos nossos olhos, já o era no passado aquando do regime segregacionista, de que não temos nenhuma saudade, e foi durante este regime que se projectou os saltos como principal economia das mais fortes em África com explorações à mistura que tão bem Hugh Masekela retrata nas suas músicas. Tal é a sorte, que em Angola faz estrondo. Pura coincidência ou não, é de lá onde se procura o caminho para resolvermos a transição para um novo ciclo político.
É saudável para o debate nacional, discutir a Constituição. Angola deve estar habituada a valorizar mais o confronto de ideias, porque só a partir destas o país ganha em qualidade. Diferente será dizer dos insultos e desrespeitos, bem como da competição de títulos académicos. Isto em nada contribui para a qualidade que se crê dar à ideia de democracia em Angola.
Angola deve estar habituada a ser posta à prova todos os dias pelos seus cidadãos. E os políticos estarem à altura de compreender deste desafio que se nos coloca, se quisermos estar à altura de desafios maiores. Quero assinalar, que fiquei assustado com a proclamação, duma ideia que pensava estar abandonada, segundo a qual “ Angola será por vontade própria trincheira firme da revolução em África”. Vindo de um jovem estudante no debate da Ecclésia, depois do susto que levei, fez-me duvidar desta possibilidade no contexto actual. Não que a vontade de ser não possa levar as pessoas a acreditarem nesta realização. Cá por mim, julgo mais prudente e oportuno procurarmos resolver primeiro os problemas internos, que não são poucos, para em posterioridades de longo prazo pensarmos nesta possibilidade. Ao que parece, não sou o único preocupado com as questões internas, antes de ir mandar nos vizinhos movidos pela saudade revolucionária.
Acredito sim, no debate que se possa gerar em torno da futura Constituição, sem extravagâncias nem posturas excludentes. Que seja um debate inclusivo e que ganhe a ideia coerente de Angola, ao transformamos esta na projecção para a dignidade humana de cada angolano e angolana. Não faltará prudência e bom senso entre os políticos. Porém, alerto para se evitar as ideias de proclamarmos uma“ República dos privilégios”.